Imagine uma criança, uma recém-nascida. A sua identidade é formada apenas pelo nome com o qual acabaram de registrá-la; seu caráter, suas metas, seus ideais, são desconhecidos, essas são características que não se adquirem ao nascer e sim ao viver cada dia e aprender que a diversidade e não as semelhanças é que formam e sustentam uma nação. Nós, seres humanos, crescemos com a certeza de que nada no mundo é perfeito, tudo se transforma para se adequar aos padrões sociais.
Na verdade eu disse todas essas coisas com um único intuito, o de explicar que quando uma pessoa nasce ela não escolhe ser homem ou mulher, pobre ou rico, ser branco ou ser negro que isso não forma caráter, significa que independente da cor, raça ou classe social, é possível ser alguém na vida e alguém que se destaque. Talvez para a sociedade atual estas palavras não façam sentido, mas quem sabe alguém, ao lê-las, se sinta na obrigação de fazer algo a respeito.
A sociedade está sendo manchada pela violência e corrupção, essa é uma realidade difícil de ser revertida. Mas estes não são os únicos problemas do Brasil, que já viveu períodos em que o preconceito formava uma áurea que regia o país. A tão mencionada democracia que, teoricamente inclui o direito de ir e vir parecia ter sido banida da sociedade.
O problema ganhou força e gerou discussão quando Barack Obama foi eleito Presidente dos Estados Unidos, em novembro de 2008, o primeiro negro a assumir a Casa Branca. A notícia causou “frisson” em todo o globo, já que os EUA é considerado um dos países mais racistas do mundo.
Ao pé da letra, preconceito é o juízo preconcebido, manifestado na maioria das vezes em forma de atitudes discriminatórias contra pessoas, lugares ou tradições.
Existe uma lista enorme de preconceitos a serem citados, mas entre muitos há três que se destacam e sobre estes o dicionário traz algumas definições.
Racial: o racismo é a tendência do modo de pensar no qual se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras. O racismo é um conjunto de opiniões preconcebidas em que a principal função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres humanos.
Sexismo: é a discriminação ou tratamento indigno a um determinado gênero, ou ainda, a determinada identidade sexual.
Social: é uma forma de preconceito a determinadas classes sociais. É uma atitude ou idéia formada antecipadamente e sem qualquer fundamento. O preconceito social também existe quando julgamos as pessoas por atitudes e alegamos que a mesma só teve tal atitude por ser de certa classe social.
Mas o que será mais triste, sofrer preconceito ou ser preconceituoso? O que leva uma pessoa a isso?
“O fato é que as pessoas julgam somente pela aparência e vêem as pessoas com indiferença, se sentindo superiores, simplesmente por serem de uma raça ou estilo diferente” diz Rafael Luiz Silva, de 18 anos, aluno do Ensino Médio da Escola Estadual Nascimento Nunes Leal, em Betim.
Para quem já passou por tal situação há um jeito diferente de lidar com o problema.
“Uma vez na escola, fui vítima de preconceito racial, na hora fiquei tranqüilo, mas por dentro estava morrendo de raiva”. Comenta Leandro Gonçalves Dias, 18 anos, aluno do Ensino Médio da Escola Estadual Nascimento Nunes Leal.
Pois é! Preconceito, discriminação, violência e outros... O mundo parece mesmo estar de “cabeça para baixo”. E a lei, onde entra nessa história? O professor de Direito da PUC/Betim e advogado, Lucas Neves, tem a resposta.
“De cara, um dos artigos mais importantes da Constituição é o artigo 5º, que fala dos direitos individuais; e ele fala o seguinte: todos são iguais perante a lei. Isso já deixa claro que não pode haver nenhum tipo de discriminação. Mas, de todos os preconceitos o mais agravante é o racial que, segundo a Constituição é crime e está sujeito a reclusão.”
Há tempos, vemos a sociedade se desintegrando, o caos que tomou o mundo com guerras, escândalos e outros conflitos sociais começa a refletir no rosto daqueles que julgávamos serem o futuro da nação. Parte da juventude está entregue ao vício e à violência e o que a sociedade faz a respeito, é estufar o peito para proferir críticas que derrubam ainda mais a auto-estima deles. O preconceito volta a ser a áurea regente do mundo.
De fato, o preconceito é uma realidade com a qual temos de conviver, o que não significa aceitar ou adotar práticas preconceituosas, um problema de tal proporção não se ignora, se enfrenta de frente, uma ação que só surtirá efeito se todos abraçarem a causa.
Foto: André Oliveira